quarta-feira, 16 de novembro de 2016

O que viajar sozinha me ensinou?

Para uns é loucura, é perigoso, para outros é coragem.  Mas afinal: o que leva uma pessoa, e mais precisamente uma mulher, a viajar sozinha?
Acredito que cada um tem suas razões, seus porquês, mas hoje quero falar das coisas que aprendi viajando sozinha e assim talvez consiga responder essa pergunta e fazer com que você também coloque a mochila nas costas e saia por ai.






O dono do casaco que me aqueceu numa noite fria em Dubai!
Não existe sensação melhor do que partir rumo ao desconhecido, pelo menos para mim.  Ao sair de casa você é tomado por um sentimento que mistura ansiedade, medo e curiosidade. E o que falar da sensação da chegada? E quando a chegada é num país completamente diferente do seu? O que falar da sensação de desembarcar no Oriente Médio? E na Ásia? Para mim é um misto de sensações que vicia. E a primeira coisa que uma viagem vai te ensinar é ser humilde. Viajar sozinho te torna, sem dúvidas, uma pessoa muito mais humilde do que quando saiu de casa. Quando se parte rumo ao desconhecido sozinho você passa a olhar para todas as pessoas na rua, você sabe que pode e vai precisar de alguém em algum momento, e não é só por necessidade que você é tomado pela humildade: na verdade você sai disposto a ajudar todo mundo que cruza na sua frente porque eles também podem estar precisando de você. Você está tão feliz que poder ajudar alguém vai tornar sua viagem ainda mais especial! E ai vem a melhor descoberta de todas: como o mundo é cheio de pessoas boas, solidarias, divertidas, amorosas! Você vê que o mineiro ama ajudar um viajante perdido, descobre que o nordestino com dois dedos de prosa já te chama pra almoçar na casa dele, que o homem muçulmano é capaz de te dar um casaco se perceber que você está com frio. Apesar de o noticiário nos dizer o contrário acredite: o mundo tem muita gente boa! E como é bom vivenciar isso e viajando só você vai acreditar nisso definitivamente!



Viajar só é ajudar e ser ajudado o tempo inteiro e principalmente buscar novos amigos e novas experiências. Ao chegar num local novo tudo te interessa: as pessoas, os lugares, as rotinas, os caminhos, as ruas, a linguagem e por tudo ser novo para você, você se abre para todas as pessoas que simplesmente te olham. E ai você, mesmo sendo tímido, aprende a se comunicar ainda mais, a fazer novas amizades o tempo inteiro. Engana-se quem acha que quando a gente viaja só passeamos, andamos, bebemos, comemos sozinhos. Digo sempre que só fico só quando eu realmente quero. Qual mochileiro nunca entrou num quarto de hostel e 10 minutos depois saiu pra dar um rolê com 5 amigos novos, cada um de um lugar diferente? A gente olha pro outro visualizando um universo completamente novo, a gente passa horas contando e ouvindo historias e ai a gente aprende que sabemos muito pouco sobre tudo. Você vê que não sabe nada sobre coisas que você acreditava saber. Você passa a questionar sua rotina, suas relações, seu país, sua casa, seus pertences e tudo que acredita. E ai você aprende o que nenhum livro ou noticiario conseguirá te ensinar.
Os donos da caneta do aeroporto de Bangkok
Desembarcar  só é pedir uma caneta emprestada no aeroporto e dali já sair dividindo o taxi com quem te emprestou. É comer comida de rua boliviana com a galera que você acabou de conhecer. É ser feliz com a sua própria companhia e experimentar uma liberdade que talvez até então você não conhecesse: você vai acordar, sair, dormir, curtir, passear, conhecer lugares na hora e como você quiser! Você faz o seu tempo e quando você volta, se adaptar a rotina é tão difícil que te faz repensar até que ponto ela te faz feliz, porque experimentar a liberdade é o perigo mais gostoso do mundo!
E o que falar das despedidas? Viajar é se despedir o tempo inteiro de pessoas que você gostaria de conviver para sempre! E que aprendizado isso nos proporciona... logo nós que sentimos falta de uma amiga que fica 3 dias sem dar noticias? Pois é, abraço daqui, beijos de la e cada um segue seu caminho, seu roteiro, sempre felizes por estar realizando mais um sonho. Costumo dizer que as amizades que a gente faz viajando são intensas porque ao cruzar com o outro estamos despidos, estamos num lugar novo com pessoas novas com total liberdade pra sermos o que a gente realmente é. Sem compromissos, sem rotina, sem amarras, sem o julgamento do outro: apenas estamos, da forma mais sublime porque estamos felizes quando estamos viajando e isso torna tudo ainda mais especial. E se você acha que as amizades feitas em viagem não duram, acabei de voltar de um reencontro da galera que se conheceu na Tailândia em 2015, já reencontrei uma amiga que fiz em Jericoacoara há 4 anos atrás em dois continentes diferentes, enfim... tenho milhares de amigos espalhados por ai marcando reencontro.
Sozinha?
Viajar sozinha nos mostra, além disso tudo, o quanto somos fortes, o quanto a gente é capaz de se virar sozinho mesmo com aquele inglês enferrujado do outro lado do mundo num país que praticamente só fala a sua língua. Somos tomados por uma coragem que até então a gente desconhecia. Quando a gente volta de uma viagem a gente olha pra trás e pensa: “nossa, consegui fazer isso tudo só? Então eu posso muita coisa!” e fatores impeditivos simplesmente deixam de ser. Aprendemos que tudo vai dar certo, mesmo com sua mala extraviada, mesmo quando parece que o dinheiro não vai dar, mesmo comendo aquelas comidas de rua tailandesas, mesmo se perdendo pelas ruas de Barcelona ou voltando bêbada de uma balada em Cusco. E se não der certo? Então, no dia que não der, eu vou pensar sobre isso. Mas posso adiantar: sempre será um aprendizado para a próxima!
“Mas não é perigoso? Você, mulher, sozinha por ai?” Na verdade é perigoso ser mulher, infelizmente, em qualquer lugar do mundo então isso nunca poderá ser um fator impeditivo para você. Tome as precauções que você já toma normalmente, escute os moradores locais, pesquise um pouco, mas vá de peito aberto porque com certeza você vai cruzar com muito mais pessoas boas do que ruins por ai! E cuidado: uma vez viajando sozinha você não consegue mais parar porque agora você aprendeu a ser humilde, que existem pessoas maravilhosas no mundo prontas pra te ajudar, que você vai fazer milhares de amigos diferentes, aprendeu a acreditar que tudo sempre vai dar certo, que você é corajosa, forte, sabe se virar sozinha e adora a sua própria companhia. Sendo assim, se ainda não experimentou coloque a mochila nas costas e vá. Depois venha me contar como foi.
Vulcão Villarica